domingo, 11 de maio de 2008

Trovões

[Minha vida não anda muito engraçada ultimamente. Não, não que esteja triste, só não está engraçada.
Ainda não decidi o que fazer no vestibular, e, acredite se quiser, em uma semana me passou pela cabeça: Computação, Farmácia e Estilismo. Não, não é como se eu estive indecisa, é? ]
Ultimamente eu tenho lembrado de coisas que pareciam estar meio perdidas pela minha cabeça. Uma completa bagunça, admito. Lembrei-me de pessoas. De amigos, de um em especial, e o que me incomodou não foi a saudade, foi na verdade a ausência desta. Lembrei-me de épocas, e percebi, mais do que nunca, como as coisas mudaram, não posso dizer que não gosto do rumo que elas tomaram, mas também não posso dizer que não sinto uma certa insatisfação ao perceber que a gente não tem o mínimo controle sobre nossa própria vida, por mais que os mais ousados insistam em afirmar o contrário. Mas o que mais tem pesado aqui, a ausência mais expressiva, não se resume de forma tão simples. É incrível como eu luto inutilmente para manter em mim lembraças que escoam de forma inevitável por dentre meus dedos. Eu me apego aos restos, é essa a verdade. Me apego à imagem falha de um último sorriso, do cheiro distante dos caramelos. O incessante estalar de dedos, as cortinas abertas bem cedo aos domingos, a campainha tocando às 7. Me apego às horas deitadas no chão assistindo o mesmo filme pela milésima vez. E me desespero ao perceber que aos poucos eu vou esquecendo do som daquela voz, me dá uma vontade infantil de tapar os ouvidos e guardar para sempre o restinho dela. Me desespero ao esquecer um traço daquele rosto, e corro para o álbum de fotografias mais próximo, suspirando de alívio e decorando cada linha novamente. Estampo um sorriso amarelo sempre que ouço tocarem no assunto, será sempre assim. Me sinto como uma louca, olhando para o mar, este já não tem o mesmo significado, não sem aquela mão atada a minha por de baixo de ondas. "Obladi, oblada, life goes on". É ruim saber que nunca mais eu irei acordar com essas palavras cantaroladas. Às vezes quando fecho os olhos me vem à mente a imagem dos meus passos lentos pelo corredor, buscando ouvir os seus. Tolice. E me vem à mente todos aqueles olhares, e aquelas palavras. Palavras pesadas de mais para uma criança de 7 anos. Não, não vou chorar pelos cantos, eu assisto à isso atônitamente. Pois ele não partiu de forma brusca, não de mim. E é isto que dói mais. Foi isto que segurou minhas lágrimas. Por cima de tudo, por cima de tudo o que me restou, me pesa aquele "tchau". Me pesa o silêncio que o seguiu, pesa mais que tudo nesse mundo. Eu virei as costas. E é desta maneira que as vagas memórias se vão, me virando as costas. E de repente uma palavra escapa dos lábios. Sem nexo, sem um perfeito significado, mas nunca sem valor. Pai.

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