segunda-feira, 16 de junho de 2008

não tão fácil

Olhava a brincadeira da criançada. Invejava o brinquedo alheio, quietinha. Disfarçava, mas o que mais queria era realmente um brinquedo daqueles. Mimada, conseguiu. Ficou tão feliz, que demorou um bom tempo para tirá-lo da embalagem. Olhava-o de perto, sorria tonta. Com as pontas dos dedos, tocava-o e se vangloriava, agora seria como as outras crianças. Mas algo deu errado, algo no seu jeito, ou talvez na indelicadeza de suas mãos, algo quebrou o brinquedo, algo o partiu em mil pedacinhos. Juntou-os, tentou e tentou montar de novo, tentava sem nem parar para pensar, mas ao fim ele sempre se desmontava em suas mãos. Não deveria ser assim, o brinquedo deveria ter algum defeito. E foi com um baque que percebeu, 'o defeito sou eu'. É lindo, é mágico, é belo, mas não é para mim. Chegou a erguer o brinquedo, movida pela fúria, iria arremesá-lo! Mas a decepção a amadurecia, e a fazia perceber a importância da sensatez, então, sensatamente, pegou os cacos do brinquedo e colocou-os de volta na embalagem, não era o mesmo, nem tampouco era a mesma. No outro dia sentiu o peso, sentiu o peso de ver as outras crianças sorrindo, sentiu o peso das indagações e das afirmações, sorriu para si mesmo, quem sabe não era especial? Precisaria, então, de um brinquedo especial! Mas o medo não a permitiria tentar novamente. Amava os brinquedos, admirava os brincantes, mas se resumiu a aquilo, afastara, para sempre, suas mãos grosseiras do belo e delicado.

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